De falta de ar a palpitações, os sintomas físicos da ansiedade são conhecidos por quem vivencia o transtorno e percebe o corpo reagindo ao que acontece no cérebro. Mas, não menos comum, o intestino também pode indicar um comprometimento da saúde mental por meio de reações como constipação, diarreia, dor abdominal e gases.
Isso é possível porque intestino e cérebro estão constantemente trabalhando juntos, segundo a médica coloproctologista Larissa Berbert, especializada em doenças do trato intestinal.
“Tanto o cérebro consegue modular o funcionamento do intestino, no que diz respeito a contração, liberação de substâncias e de secreção, como o intestino consegue se comunicar com o cérebro por meio da liberação de neuropeptídeos, substâncias da microbiota intestinal que se parecem muito com os neurotransmissores”, explica.
De acordo com a coloproctologista, em casos de estresse ou ansiedade, por exemplo, o cérebro e outras glândulas liberam substâncias que alteram as funções do intestino, seja afetando as contrações ou selecionando bactérias intestinais de forma errada.
“Ocorre uma incoordenação da contração que pode causar diarreia ou constipação, dependendo da pessoa. No caso de selecionar bactérias mais fermentativas, a pessoa pode ter gases, sensação de estufamento, má digestão e azia”, destaca Larissa.
Em casos extremos, com a persistência desses sintomas, a ansiedade e o estresse podem contribuir para o desenvolvimento de problemas mais graves, como doença de Crohn e retocolite ulcerativa que, segundo a médica, costumam piorar ainda mais quando a saúde mental está comprometida.
“A saúde intestinal é central para o corpo inteiro estar equilibrado, e a saúde mental está no meio disso. Há estudos que falam que pacientes esquizofrênicos e depressivos têm o padrão de microbiota alterado, por exemplo. É algo que se retroalimenta”, ressalta.
Por ser uma via de mão dupla, não é possível sanar o mal-estar intestinal sem antes tratar a ansiedade ou resolver o motivo responsável pelo acúmulo de estresse, segundo a médica. Neste sentido, Larissa recomenda algumas práticas que auxiliam na saúde do intestino como no bem-estar emocional.
“Atividade física e alimentação balanceada constroem um intestino mais saudável, ajudando a liberar fatores que acalmam e contribuem para diminuir o nível de ansiedade. Dormir bem também ajuda a ter um nível de estresse menor”, ressalta.
Assim como problemas intestinais podem ter outras causas e precisam ser acompanhados por um especialista, vale ressaltar que para tratar transtornos como o de ansiedade é fundamental o acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
“Se a pessoa tem alguma alteração intestinal, é importante não culpar só a ansiedade ou o estresse antes de procurar um médico, porque pode haver uma questão genética associada e pode ser que tenha algum outro diagnóstico envolvido”, destaca a especialista.